|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pivô de julgamento no STF é condenado
Juízes no Ceará divergem na investigação sobre dono de agência de turismo acusado de movimentar dinheiro de origem criminosa
Anulação de processo em vara especializada pode invalidar decisões sobre valerioduto, Banestado e ações penais contra Maluf
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Se o STF (Supremo Tribunal
Federal) concluir que as varas
especializadas para julgar crimes de lavagem de dinheiro,
criadas em 2003, ferem a Constituição, o primeiro beneficiado será Roberto de Barros Leal
Pinheiro, dono de uma agência
de turismo no Ceará, recém-condenado a 35 anos de prisão
e multa de R$ 23 milhões. Ele
foi acusado de realizar operações para dar aparência lícita a
dinheiro de origem criminosa.
A sentença -da qual Pinheiro recorrerá em liberdade- foi
proferida pelo juiz Danilo Fontenelle, da 11ª Vara Federal do
Ceará, especializada para julgar
crimes de lavagem. "Essa é uma
sentença que não se sustenta",
afirma José Cândido Lustosa
Bittencourt de Albuquerque,
advogado de Pinheiro.
O processo poderá ser anulado desde a origem se o plenário
do STF acompanhar os votos
dados até agora pela ministra-relatora Carmen Lúcia e pelo
ministro Ricardo Lewandowski no julgamento de um habeas
corpus impetrado por Pinheiro
em 2006. Os autos retornariam
para o juiz Augustino Chaves,
da 12ª Vara Federal do Ceará,
que se considera "cuidadoso ao
julgar crimes financeiros, sem
recorrer a medidas de força", e
que entende ser o juiz competente (ver texto nesta pág.).
Disputa interna
Por trás da questão constitucional levantada no STF, há
uma forte disputa entre esses
dois juízes federais do Ceará e o
risco de retrocesso no combate
ao crime organizado, como a
Folha revelou na edição de 1º
de abril: esse julgamento do Supremo poderá abrir um precedente para invalidar decisões
judiciais nos processos do valerioduto, Banestado, Banco Santos e nas ações penais contra
Paulo Maluf e Celso Pitta.
Fontenelle representou (ofereceu queixa) contra Chaves,
alegando demora no envio do
processo. A especialização da
11ª Vara ocorreu em junho de
2003; a denúncia foi recebida
por Chaves em setembro daquele ano, mas os autos só chegaram a Fontenelle em fevereiro de 2005, "após um ano e quatro meses na 12ª Vara, sem interrogatório do réu".
Na sentença, Fontenelle cita
que o Ministério Público Federal requisitara o seqüestro e a
indisponibilidade de bens do
réu, mas Chaves abriu prazo
para que ele se manifestasse
acerca do pedido. O investigado
foi "contrário" à medida.
Pinheiro pediu ao Supremo
que a ação penal retornasse ao
titular da 12ª Vara, por violação
ao princípio do juiz natural (escolhido por sorteio). Essa tese
havia sido rejeitada pelo TRF
da 5ª Região e pelo STJ.
"Qualquer pessoa que olhar o
perfil dos dois juízes supõe, legitimamente, que aqui ele teria
uma pena mais leve", admite o
juiz Augustino Chaves. Ele diz
que Fontenelle "é o juiz que
mais tem sentenças reformadas, porque dá penas muito altas, extravagantes".
Segundo a denúncia, Pinheiro usava sua agência de viagens
e uma empresa de factoring para captação ilegal de empréstimos. Entre 94 e 99, foram movimentados US$ 35,7 milhões.
Texto Anterior: Lula deve nomear ministro depois de viagem Próximo Texto: Outro lado: Juiz diz que bloqueio era desnecessário Índice
|